terça-feira, 13 de outubro de 2009

ECOLOGIA HUMANA

“Gentileza gera gentileza”

Gentileza gera gentileza? Definitivamente, sim. A ciência vem conseguindo provar que as sutis energias do amor são muito mais poderosas e construtivas do que o ódio e seus derivados. O que antes pertencia ao reino da poesia agora começa a ser tratado com a devida atenção pela ciência, a ponto de merecer status próprio.
Estamos falando em Ecologia Humana, uma ciência nova e transdisciplinar que estuda as relações de convívio doshomens entre si e com seu meio ambiente, incluído o natural.

A Ecologia Humana tem muito a contribuir com as bases teóricas do desenvolvimento sustentável, uma vez que, sem sustentabilidade nas relações humanas, se torna impossível vislumbrar esse aspecto em qualquer outro âmbito.
A partir desta edição, a Newsletter Ecofuturo vai abordar o tema da Ecologia Humana de muitas maneiras, a começar pela idéia de gentileza. Por que gentileza? Porque a gentileza pode funcionar como uma “cola” que sustenta as relações, não apenas entre humanos, mas entre todos os seres vivos. Buscaremos referências teóricas em filósofos, escritores, físicos e cientistas sensibilizados pelo tema e também nos anônimos do dia-a-dia. Mostraremos ainda exemplos práticos, de casos reais em que uma simples gentileza desencadeou uma corrente positiva.

Essa foi a idéia defendida pelo criador da frase “Gentileza gera gentileza”, José Datrino (1917–1996), carioca que deixou a vida de empresário para pregar a gentileza, ficando conhecido como Profeta Gentileza. O que ele pregava era simples, mas de enorme complexidade, dada a incrível dificuldade que o ser humano tem de despretensiosamente ser gentil com o outro.

Praticando a gentileza

Para estrear a série “Ecologia Humana”, conversamos com a bióloga Rita Mendonça, que trabalha na área de Educação Ambiental com pessoas que buscam inspiração na gentileza – traço observável em todos os elementos da natureza, com exceção do homem, infelizmente!

Rita Mendonça é um exemplo perfeito de walk the talk, ou seja, de quem pratica o que fala. Ela tem a voz doce e calma, mantendo o tom abaixo do comum, em uma performance lapidada pelo contato freqüente com a natureza. Falar em voz alta no meio da mata pode espantar os pássaros, assim como pisar sem cuidado pode significar a morte para uma comunidade de formigas. Diretora-presidente do Instituto Romã, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que trabalha pela ecologia humana, Rita acredita que a cortesia e a educação podem fazer a diferença na construção de um mundo melhor. “Gentileza não é só dizer ‘bom dia’, ‘por favor’ e ‘obrigado’. Cuidar do meio ambiente e da cidade e respeitar as diferenças também é ser gentil”, afirma

Homem e natureza

Rita Mendonça é conhecida pelas “caminhadas filosóficas”, ocasiões em que leva pessoas para a natureza a fim de desenvolver conceitos como afetividade e inclusão. “Acredito que a modernidade construiu seres humanos distantes uns dos outros e até de si mesmos. Isso gera individualismo e competitividade desenfreada”, analisa Rita, que, por intermédio de cursos e treinamentos do Instituto Romã, aplica o Aprendizado Seqüencial, programa inspirado na organização americana Sharing Nature Foundation. Educadores, funcionários do governo, terceiro setor e profissionais de Psicologia são o público-alvo. “A ecologia tradicional estuda apenas plantas e animais; já a Ecologia Humana inclui o ser humano nos processos ecológicos, uma vez que faz parte da natureza e não se sustenta sozinho”, afirma. Os treinamentos são realizados em parques, áreas de conservação ambiental do governo ou até particulares, como o Parque das Neblinas. Segundo Rita, a troca de energia durante a comunicação estabelecida entre o visitante e a natureza é capaz de combater doenças causadas pelo ritmo incessante da vida contemporânea, como depressão, info-estresse e déficit de atenção. Afinal, como não prestar atenção na mini-orquídea orgulhosamente hospedada na gigantesca palmeira? Como ficar deprimido diante da profusão de vida e cores gentilmente oferecida a quem se permite ver?
O conceito de Ecologia Humana tem literatura escassa no Brasil, mas os livros Nossa vida como Gaia, de Joana Macy, e Conservar e criar – Natureza, cultura e complexidade, da própria Rita, por exemplo, desenvolvem o tema, que propõe a interdisciplinaridade. O objetivo é atender a escolas tão diversas quanto Filosofia, História, Antropologia, Economia, Pedagogia, Psicologia e Sociologia. De acordo com Edgar Morin, filósofo e teórico presente entre os autores estudados, “todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana”*. Traduzindo em palavras, parece fácil, mas o que fazer para conquistar “autonomia individual”? Em que momento essa autonomia se confronta com a ética coletiva? Perguntar é preciso e já constitui um bom começo. Como dizia Pitágoras, “o começo é a metade do todo”.

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